Caio arrancando com a bola em uma partida do Birkirkara
Caio Henrique Rocha se tornou destaque na Primeira Divisão de Malta em tempo recorde / Elena Bonello

O atacante Caio Henrique Rocha (24 anos) foi entrevistado pela primeira vez pelo LD Sport News em 2007, em Ibiza, com apenas 12 anos. Apesar da pouca idade, o jovem paranaense de Maringá já era considerado um verdadeiro fenômeno futebolístico na paradisíaca ilha do mediterrâneo.

Talentoso e obstinado, tinha na cabeça o sonho de muitas crianças, o de ser jogador profissional de futebol. Sua qualidade chamou a atenção de várias equipes da Espanha, mas foi o Mallorca que decidiu apostar por ele.

Após um tempo, Caio e sua família decidiram voltar a viver no Brasil. A mudança não impediu o jovem craque de seguir buscando o seu sonho. No segundo encontro com o LD Sport News, em 2011, ele acabava de assinar o seu primeiro contrato profissional.

A oportunidade surgiu no Coritiba FC, uma história que começou bem, mas que não teve o final esperado por situações alheias ao seu talento. Agora, 12 anos depois, Caio volta a ser protagonista no LD Sport News.

A nova conversa foi em Ibiza, onde ele retomou com sucesso a luta por um espaço no futebol. Após um ano de readaptação e muitos gols, ele foi procurado por diversos clubes profissionais e acabou aceitando a proposta do Birkirkara FC, clube da primeira divisão de Malta.

Nessa exclusiva, Caio fala sobre o importante momento da carreira, explica o que deu errado na sua etapa no Coritiba e mostra personalidade ao falar sobre o que espera para o futuro. Confira!

Qual a sua impressão do futebol de Malta com relação a estrutura, qualidade e organização?

A impressão foi boa. Já com relação a estrutura e organização, por ser a Primeira Divisão, em alguns aspectos deixa um pouco a desejar. Mas a qualidade é boa e é um bom lugar para poder se destacar e dar um salto na carreira.

Quais são as suas perspectivas e objetivos nessa nova etapa?

Caio no momento da assinatura de contrato com o Birkirkara FC
Caio Henrique Rocha no momento da assinatura de contrato com o Birkirkara FC.

Minhas perspectivas são sempre as melhores, assim como em todo lugar que passei. Sempre concentrado e trabalhando forte naquilo que amo fazer.

Meu objetivo com a equipe é poder terminar entre os quatro primeiros para ter chances de entrar na Champions ou Europa League.

Individualmente, quero manter a titularidade e me destacar jogo a jogo para ajudar o time e criar oportunidades para eu crescer na carreira.

Você se profissionalizou pelo Coritiba FC e estava no caminho certo, mas algo complicou sua trajetória. O que aconteceu?

Olha, é difícil falar apenas de uma situação. O futebol às vezes é injusto. Mas após ter tido uma lesão no joelho que me deixou um ano sem jogar, muitas outras coisas aconteceram. Teve treinador que me prejudicou muito, não me colocava para jogar mesmo eu estando muito melhor fisicamente e em todos os aspectos. Meus próprios companheiros não entendiam.

Aí quando tudo começou a voltar a normal, chegou um novo treinador. Fui titular o campeonato inteiro e fiz uma grande temporada, mas aí apareceu meu ex-empresário para prejudicar minha carreira. Meu contrato acabava no final de 2015. O Coritiba ligou durante três meses para mim e para ele para renovar o contrato. O meu ex-empresário ficou enrolando e não foi. Meu contrato estava em cima da mesa.

E o que aconteceu?

Chegou o fim do ano, o meu contrato acabou, mudou toda a diretoria do clube e os novos dirigentes não quiseram renovar com ninguém que tinha terminado o contrato. Fiquei sem clube na fase mais importante da minha vida, que era a transição da base para o profissional. Tinha certeza que renovando o contrato eu ir ter minha chance de estrear no profissional na temporada seguinte.

Então, o sonho ficou pelo caminho. Ficar sem clube, sem ter mais idade da base e sem ter jogado como profissional é complicado. Nenhum clube quer arriscar te contratar se nunca jogou como profissional. Fiquei sem ter uma chance.

Foi então quando minha família decidiu voltar para a Espanha e eu lá recomecei, em um time amador. Conseguimos ser campeões e subimos para a Terceira Divisão do futebol espanhol. No ano seguinte mudei novamente de clube, mas tive que continuar no amador porque minha documentação espanhola não estava pronta e não podia jogar como profissional.

Então, nesse novo clube marquei 44 gols em 21 jogos. Fui o maior artilheiro da história do campeonato. Fui escolhido o melhor jogador e quando minha documentação ficou pronta vários clubes entraram em contato comigo e então eu assinei contrato com uma categoria superior.

Porém, de um dia para outro apareceu a chance ir a jogar a Primeira Divisão de Malta. Não pensei duas vezes. Tudo em comum acordo com o clube que eu já tinha assinado, que me deu todo o apoio. Graças a Deus deu tudo certo, assinei contrato profissional e voltei a elite do futebol para poder recomeçar minha carreira.

Caio, capa do Diário de Ibiza em 2007 e 2019.
Caio sempre foi destaque e ídolo no futebol de Ibiza ao longo da carreira.

Você já era um fenômeno em Ibiza com apenas 12 anos e nesse seu retorno recuperou rapidamente o status de ídolo e melhor jogador a base de gols. Acredita poder conseguir esse destaque absoluto também em Malta?

Sim, minha história em Ibiza é muito bonita. Eu me destaquei durante muitos anos. Desde criança e também no meu retorno à ilha. Sim, acredito que posso ser destaque em Malta, até porque sou sonhador e nunca duvidei daquilo que eu posso conquistar e onde eu posso chegar.

E como está sendo tua adaptação no futebol maltês e também na ilha de Malta? Já fez amigos, conheceu lugares, consegue se comunicar com os companheiros…?

A adaptação está perfeita, já fiz vários amigos, conheci vários lugares e já me comunico bem com todos. Tem vários argentinos e brasileiros, o que também ajuda na adaptação.

Caio curtindo um dia de folga em Malta.
O atacante Caio, do Birkirkara FC, curtindo um dia de folga na ilha de Malta.

Ibiza, Malhorca, Formentera, Malta…já parou para pensar que você parece predestinado a ser craque em alguma ilha?

 Incrível, né? Não tinha parado para pensar nisso. Mas realmente foi nas ilhas que eu fiz mais sucesso. Espero mesmo que nessa ilha seja uma temporada de grande crescimento e possa me tornar conhecido ao ponto de ser considerado craque (risos).

Você tem 24 anos de idade, a maioria dedicada a lutar por um espaço no difícil mundo do futebol. Qual foi o seu maior aprendizado em todos esses anos e acredita que todo o seu esforço será finalmente recompensado?

 Meu maior aprendizado foi entender que nem tudo depende apenas de nós e daquilo que façamos dentro de campo. O futebol tem muitos fatores extracampo e foram esses que me prejudicaram algumas vezes. Mas isso já é passado e agora só quero pensar no meu futuro e acredito sim que finalmente serei recompensado. Quem me prometeu é fiel para cumprir.

*Até a publicação dessa entrevista tinham sido disputadas seis rodadas do Campeonato Maltês. Tempo suficiente para Caio se tornar um dos principais destaques da sua equipe e ser eleito três vezes o melhor jogador da partida (MVP). Além disso, já marcou um gol no campeonato e conseguiu três vezes estar no time da rodada.