As emissoras de rádio da Espanha vivem uma situação inédita na Liga Espanhola.

É impossível imaginar o futebol sem a rádio. O meio de comunicação mais popular do planeta foi um dos principais elementos que acompanharam o desenvolvimento desse esporte. Durante décadas foi a única opção do torcedor para seguir as aventuras do seu time, mistificou jogadores e conquistas através da criatividade dos seus narradores. Também levou emoção aos lugares mais remotos e mesmo com o surgimento das novas tecnologias, o rádio jamais perdeu o seu encanto.

Mas agora tudo mudou. A transformação do futebol em um negócio profissional e milionário está exigindo às rádios uma adaptação nada romântica aos tempos modernos. Tudo é dinheiro. Por culpa disso, as emissoras de rádio espanholas estão proibidas de entrar nos estádios para cobrir os jogos da Liga Espanhola 2011/12. O torcedor já leva nove rodadas sem poder escutar o seu locutor predileto narrando ao vivo as jogadas e os gols dos craques que atuam na melhor liga do mundo.

A Liga de Futebol Profissional (LFP) exige que as rádios paguem uma taxa pelos direitos audiovisuais da competição, controlados pela empresa Mediapro, presidida por Jaume Roures. Entretanto, as emissoras alegam estar amparadas pelo constitucional direito à informação e afirmam que isso não é negociável.  A LFP afirma que se as TV´s pagam para ter o direito de transmitir, os outros meios de comunicação também devem fazer o mesmo.

Os proprietários das rádios se defendem dizendo que não se pode comparar as transmissões de rádio com as de televisão, por razões óbvias. O Blog LD Sport News conversou com alguns jornalistas das principais rádios da Espanha para saber um pouco mais sobre o assunto e pôde constatar um sentimento de indignação dos entrevistados.

Valores abusivos

Os jornalistas concordam que a empresa Mediapro cobre pelos direitos de transmissão da Liga Espanhola, mas não estão de acordo com o valor pedido e exigem mais serviços exclusivos durante as jornadas de trabalho. “É totalmente injusto. O que não faremos é pagar pelo que sempre fizemos. Se pagamos, também queremos no mínimo uma área reservada para a rádio no gramado, uma entrevista exclusiva com algum jogador após o jogo, entre outras coisas”, comentou o chefe da equipe esportiva em Catalunha da emissora Cadena Ser (a maior da Espanha em audiência), Edu Polo.

Segundo os entrevistados, o valor exigido a cada emissora foi taxado de acordo com o índice de audiência de cada uma delas, algo em torno aos 3 milhões de euros – aproximadamente R$ 7 milhões de reais – para as de maior público, por uma temporada. Além disso, a forma como tudo aconteceu teria deixado muito a desejar. “Durante décadas a rádio foi essencial para o futebol espanhol. Os clubes buscavam um espaço nos programas esportivos. Agora, de um dia ao outro nos pedem dinheiro e proíbem nossa entrada nos estádios. Um gesto muito desagradável”, declarou o locutor da Onda Cero, Alfredo Martínez.

As emissoras de rádio espanholas mostram união na luta contra as exigências da Liga de Futebol Profissional (LFP) e da Mediapro. Foto: www.as.com

Apesar de algumas reuniões entre a LFP e os representantes das rádios, o conflito segue sem solução. A jornalista Sònia Sanz da CADENA COPE espera que esse problema seja resolvido o antes possível. “Acho justo que peçam dinheiro pela Liga Espanhola, mas os valores são abusivos. Com essa postura fica difícil chegar a algum acordo, mas isso tem que ser feito logo, afinal o campeonato já está em andamento e não podemos realizar nosso trabalho”, afirmou.

Todos coincidem também na opinião de que não há como comparar os valores de publicidade das TV´s com os das rádios durante as transmissões. Por ter os direitos de imagem, as televisões negociam as propagandas por valores milionários, o que não é o caso das rádios. “As TV´s pagam para ter a imagem, algo muito mais valioso. Nós não temos esse recurso e temos que fazer nosso público visualizar a partida através do nosso trabalho”, afirmou Edu Polo. “Os jornais impressos, as revistas e os blogs fazem a mesma coisa. Se as coisas seguem assim, logo também não poderão entrar nos estádios?”, completou.

Recursos ´técnicos´

Com a entrada vetada nos estádios, o negócio é se virar. Muitas são as ´técnicas´ adotadas pelos radialistas para conseguir realizar o trabalho de cada dia. Vai de comprar entradas e transmitir os jogos no meio da torcida com um celular até entrar no apartamento de um torcedor com vistas para o estádio. “Numa partida da segunda divisão, um repórter subiu num guindaste e narrou tudo o que via porque tínhamos um furgão perto com sinal inalâmbrico. O importante á fazer a informação chegar até o ouvinte”, comentou um dos entrevistados.

Representantes de Mediapro afirmaram que pediriam que cortassem os sinais de TV nos endereços das rádios para que os locutores não pudessem transmitir os jogos através dos aparelhos de televisão. “É ridículo. Eles não têm como fazer isso. É uma forma sem sentido de tentar pressionar”, comentou Sònia Sanz. O certo é que as rádios se mostram unidas na batalha contra as exigências da empresa. O Blog LD Sport News entrou em contato com Mediapro, mas não conseguiu obter declarações sobre o assunto.